Este é o primeiro de uma série de artigos mensais nos quais abordaremos, neste espaço, temas relacionados à gemologia de interesse geral dos comerciantes de gemas e joias.

 

O tema dos primeiros artigos será o tratamento de gemas e o iniciaremos com uma introdução geral sobre o assunto.seguida. Em seguida, publicaremos artigos individualmenteabordando de forma individual as principais técnicas utilizadas no tratamento de gemas, sobretudo as
mais difundidas e de uso consagrado e contínuo pelo mercado.

 

Os tratamentos em gemas visa a melhoria de seu aspecto e agregação de valor desde os tempos mais remotos. O escritor romano Plínio, que morreu durante a erupção do Vesúvio no ano de 79 DC, já havia descrito em sua obra “História Natural” uma série de tratamentos empregados em gemas, tais como o tingimento e a aplicação de óleos, que ainda hoje continuam sendo sistematicamente utilizados, passados quase 2.000 anos!

 

escritor romano Plínio

 

Entretanto com o passar do tempo, as técnicas de tratamentos que visam a melhoria de cor, pureza e durabilidade das gemas tornaram-se cada vez mais sofisticadas e sua detecção e revelação (disclosure) ao público consumidor são temas controversos e amplamente debatidos pelo setor de gemas e joias, especialmente em tempos de exigência de práticas comerciais responsáveis e sustentáveis.

 

Quais os tipos de tratamentos em gemas?

 

Entre os diversos tipos de tratamentos em gemas , sobretudo as produzidas em nosso país, destacam-se três: térmico, irradiação e preenchimento de fraturas e cavidades com diversas substâncias, especialmente óleos e resinas.

Além desses, existem diversos outros tipos tratamentos em gemas importantes e amplamente disseminados, tais como tingimento, impregnação, clareamento, recobrimento superficial e difusão, além dos processos aplicáveis exclusivamente ao diamante, tais como HPHT (High Pressure, High Temperature) e perfuração a laser.

 

tratamentos em gemas

 

As entidades de normalização e as organizações profissionais do setor, nacionais e internacionais, tais como ABNT, CIBJO, ICA, AGTA, entre
outras, possuem normas e diretrizes que estabelecem as corretas nomenclaturas e terminologias dos diferentes tratamentos. Além disso, essas regras especificam as informações que obrigatoriamente devem ser revelados ao público consumidor, assim como descrevem os cuidados
básicos necessários a serem tomados ao usar peças que contenham gemas tratadas.

A resposta aos tratamentos é um aspecto importante a ser considerado, pois costuma ser bastante variável de acordo com a procedência geográfica do material a ser tratado. Deste modo, determinadas gemas podem reagir de forma completamente distinta a um mesmo tipo de tratamento, mesmo se realizado sob  condições idênticas. Podemos exemplificar com o caso de águas-marinhas de aspecto semelhante, mas originárias de diferentes localidades, que costumam responder de forma distinta ao serem submetidas ao tratamento térmico, bem como o dos quartzos de diferentes origens geográficas reagirem de distintas formas à irradiação, caso possuam ou não determinadas impurezas conhecidas como precursores.

 

tratamentos em gemas

 

A durabilidade dos diversos tipos de tratamentos é outro aspecto relevante, pois alguns são estáveis e permanentes, ao passo que outros podem ter diferentes níveis de durabilidade ou até mesmo serem completamente instáveis sob condições normais de uso.

A correta detecção e descrição dos tratamentos, frequentemente múltiplos em um único exemplar, é hoje, juntamente com a identificação das gemas sintéticas, o maior desafio que se impõe aos laboratórios gemológicos ao redor do mundo. Esta detecção requer atualmente a utilização, além dos procedimentos convencionais, de técnicas e equipamentos avançados e não estritamente gemológicos, especialmente os diferentes tipos de espectroscopia (UV-VIS-NIR, Raman, PL, FTIR, EDXRF, etc) que até há poucos anos não pertenciam ao campo da gemologia.

 

Luiz Antônio Gomes da Silveira, F.G.G. Engenheiro de Minas e Mestre em Geologia Econômica pela UFMG. Gemólogo pelo Instituto Alemão de Gemologia (DGemG), Associação Britânica de Gemologia (Gem-A) e Universidade de Barcelona (UB).