O presente artigo pretende, de forma sucinta, descrever os procedimentos básicos de graduação de diamantes lapidados utilizando-se o sistema designado 4 Cs, desenvolvido pelo Instituto Norte-Americano de Gemologia (GIA).

Este sistema é adotado de forma praticamente hegemônica pelos laboratórios gemológicos e atores do mercado e leva em conta os parâmetros cor, pureza, lapidação e peso. Ele é assim designado em virtude do fato dos termos equivalentes em inglês, respectivamente, color, clarity, cut e carat(*), terem todos a mesma inicial C.

COR

A cor da maior parte dos diamantes de qualidade gemológica varia de incolor a levemente amarela e sua classificação indica a presença ou, mais frequentemente, a ausência de cor, isto é, o grau de saturação da cor amarela.

O Sistema dos 4 Cs classifica a cor segundo graus representados por letras. Deste modo, a escala de cor varia de D (absolutamente incolor) a Z (amarelo claro) e a este intervalo dá-se o nome de cores regulares ou pertencentes à denominada Série Cape. Adicionalmente, a escala possui o grau Z+, que contempla as raras cores de fantasia (fancy colors) e possui uma nomenclatura de graduação específica.

Em termos práticos, o grau de cor é determinado por comparação visual com um conjunto de pedras de cores padronizadas, obtidas por equivalência direta de padrões originais elaborados por bem conceituadas instituições internacionais do setor.

A classificação de cor deve ser realizada sob iluminação artificial padronizada com temperatura entre 5000 e 5500o Kelvin, sem interferência do componente ultravioleta, que poderia exercer influência sobre a cor. O diamante sob análise deve ser colocado solto e de perfil, com a mesa voltada para baixo, sobre uma canaleta ou cartolina branca em forma de cunha e observado na direção perpendicular ao seu pavilhão, pois nesta são minimizados os reflexos de luz. Ao ser comparado com o conjunto de pedras padrão, dispostos da mesma forma, o diamante examinado deve mudar continuamente de posição até que não mais exista diferença entre ele e uma das masters, de modo que seja classificado com o grau de cor equivalente ao da pedra-padrão.

Embora tenham matizes diferentes do amarelo, os diamantes amarronzados, acinzentados e amarelos esverdeados, muito comuns, são igualmente classificados com o auxílio do padrão de cores amareladas, mas levando em consideração a saturação, em detrimento do matiz.

A seguir, encontra-se a escala de graduação de cor de diamantes lapidados de acordo com a terminologia adotada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), apresentada na Norma Técnica ABNT NBR 12310:2015.

* Em termos estritos, a designação inglesa “carat” não corresponde a peso, mas a quilate métrico, a unidade de peso utilizada para gemas de cor lapidadas ou diamantes em estado bruto ou lapidados.

Termos

Letras

Incolor

D

E

F

Quase incolor

G

H

I

J

Amarelo pálido

K

L

M

Amarelo muito claro

N a R

Amarelo claro

S a Z

PUREZA

 

A pureza de um diamante indica a extensão da presença ou ausência de inclusões, isto é, de características internas perceptíveis, tais como cristais, fraturas, fissuras, defeitos resultantes de tensões internas, fenômenos estruturais (linhas de crescimento, planos de clivagem, planos de geminação), entre outras.

O grau de pureza de um diamante lapidado é determinado pela análise sistemática e conjunta do número, tamanho, localização, natureza e cor/relevo das inclusões visíveis com dez aumentos, por profissional qualificado e experiente, mediante o auxílio de uma lupa aplanática (que não distorça a imagem) e acromática (que não imponha cores adicionais ao diamante) ou por meio de um microscópio gemológico com igual magnificação.

A inspeção de um diamante utilizando maior magnitude é útil quando se pretende observar com mais detalhes as inclusões, principalmente para determinar sua natureza, ou bem quando se supõe tratar-se de um exemplar de grau de pureza elevado, no intuito de localizar suas eventuais diminutas características internas. No entanto, o julgamento final da pureza deve ser realizado invariavelmente sob dez aumentos, de modo que as inclusões observadas unicamente com mais magnificação que a convencionada devem ser consideradas inexistentes para fins de classificação comercial.

A graduação deve ser realizada com a pedra solta e absolutamente limpa, utilizando-se preferencialmente iluminação de campo escuro, que possibilita a incidência lateral da luz e uma melhor observação das inclusões, ou empregando-se iluminação refletida, no caso do exame das características externas. O classificador deve inspecionar um brilhante, inicialmente pela coroa (parte superior da gema facetada), dando atenção primeiramente à mesa (faceta principal da coroa) e, em seguida, às facetas mais próximas do centro, em sentido horário, finalizando pelas que se acercam ao rondízio (cintura ou parte intermediária da gema facetada). Posteriormente, examina-se as facetas do pavilhão (parte inferior da gema facetada), o rondízio e a culaça (faceta inferior do pavilhão que, idealmente, é o ponto de interseção inferior das arestas). .

Existem símbolos específicos para cada tipo de inclusão, que são devidamente plotados nos diagramas da coroa e do pavilhão existentes nos certificados de graduação de diamantes, sendo as características internas, por convenção, anotadas na cor vermelha e as externas, em verde.

A seguir, encontra-se a escala de graduação de pureza de diamantes lapidados, com seus 11 graus, de acordo com a terminologia adotada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), apresentada na Norma Técnica ABNT NBR 12310:2015, modificada.

Grau de Pureza

Descrição

FL (Flawless)

Interna e externamente puro ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos.

IF (Internally Flawless)

Absolutamente transparente e livre de qualquer inclusão ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos.

VVS1 / VVS2

(Very Very Slightly Included)

Inclusão ou inclusões diminutas e muito difíceis de serem visualizadas ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos.

VS1 / VS2

(Very Slightly Included)

Inclusões muito pequenas e difíceis de serem visualizadas ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos.

SI1 / SI2

(Slightly Included)

Inclusões pequenas, fáceis de serem visualizadas ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos e não visíveis a olho nú, através da coroa

I1

(Included 1 ou Piqué 1)

Inclusões evidentes ao exame com equipamento óptico a 10 aumentos e dificilmente visíveis a olho nu, através da coroa, não diminuindo a transparência do diamante

I2

(Included 2 ou Piqué 2)

Inclusões muito evidentes, fáceis de serem visualizadas a olho nu através da coroa, afetando ligeiramente a transparência do diamante.

I3

(Included 3 ou Piqué 3)

Inclusões extremamente evidentes, muito fáceis de serem visualizadas a olho nu através da coroa, diminuindo sensivelmente a transparência do diamante

LAPIDAÇÃO

Dentre os quatro Cs, a qualidade da lapidação é, usualmente, o parâmetro que mais profundamente influi no aspecto estético do diamante. Apesar disto, na prática diária de muitos dos que lidam com esta gema, pode-se dizer que ele é abordado quase secundariamente, se comparado aos demais parâmetros, possivelmente pela dificuldade em quantificá-lo de forma mais compreensível e sistemática.

Depois de terem suas características individualmente mensuradas ou estimadas, os fatores proporções, simetria e polimento são qualificados, cada qual, com um dos cinco graus: “Excelente”, “Muito Bom”, “Bom”, “Regular” ou “Fraco”.

Um brilhante (diamante de formato redondo com a lapidação neste estilo) é considerado corretamente lapidado se as proporções, a simetria e o polimento, individualmente graduados, resultarem em uma graduação geral “Muito Bom” ou “Excelente”.

Sob o parâmetro Proporções, de fundamental importância no efeito visual do diamante lapidado, dimensiona-se diversas características do brilhante e as compara com um dos conjuntos de proporções consideradas corretas, dentre os quais o mais difundido é o das denominadas “Proporções Ideais ou de Tolkowsky”. Assim, são mensurados altura e ângulo da coroa, espessura do rondízio, profundidade e ângulo do pavilhão, diâmetro da mesa e tamanho da culaça, se existente. À exceção dos ângulos, todas estas medidas representam percentagens em relação ao diâmetro do brilhante que, portanto, corresponde a 100 %.

O parâmetro Acabamento divide-se em Simetria (grau de exatidão da forma e colocação das facetas) e Polimento (condição da superfície do diamante).

Com relação à simetria, o brilhante é detidamente examinado em busca de eventuais desvios, tais como culaça excêntrica, mesa não paralela ao rondízio, mesa sem forma de um octógono regular, circularidade do rondízio afetada, ondulação do rondízio, presença de franjas no rondízio, presença de facetas distorcidas, facetas com arestas adicionais, facetas com tamanhos desiguais, facetas extras ou naturas (porções do cristal original mantidos deliberadamente sem talhe para servir de orientação ao lapidário), coroa e pavilhão não alinhados, entre outras.

No que diz respeito ao polimento, são averiguadas a presença de facetas queimadas, linhas e marcas de polimento, franjas, trígonos (marcas de crescimento com forma triangular), estado do rondízio (bruto, torneado, polido ou facetado), uniformidade da espessura do rondízio, entre outras características.

PESO

A unidade de peso utilizada para diamantes brutos e lapidados é o quilate métrico ou, simplesmente, quilate, de abreviatura ct (do inglês carat). Esta designação não possui qualquer relação com o quilate do ouro (de abreviatura K), que é a proporção deste elemento contido numa liga metálica.

Muito antes que os pesos fossem internacionalmente normatizados e adaptados ao sistema métrico decimal, no início do século 20, os antigos mercadores baseavam suas pesagens em objetos naturais que fossem relativamente comuns. As sementes secas eram as preferidas para pesar pequenos objetos, especialmente se o seu peso era relativamente uniforme, como era o caso da semente da alfarrobeira (Ceratonia siliqua). Esta espécie é comum no Mediterrâneo e no Oriente Médio e o peso de suas sementes, segundo os botânicos, varia entre 0,197 e 0,205 g. O termo quilate deriva, portanto, da designação desta árvore, em grego keration e em árabe qirat.

O quilate métrico corresponde a 0,2 g e deve ser expresso com duas casas decimais. O arredondamento da segunda casa decimal para cima faz-se apenas se a terceira decimal for o numeral nove, portanto leituras de 0,991 ct a 0,998 ct são arredondadas para 0,99 ct, enquanto a leitura 0,999 ct é arredondada para 1,00 ct.

A centésima parte de quilate métrico é denominada ponto. Este termo é empregado para diamantes de pesos inferiores ao quilate (ex: 99 pontos ou 0,99 ct), principalmente para diamantes muito pequenos ou para pesos complementares ao quilate (ex: 1,25 ct: um quilate e vinte e cinco pontos).

O peso de um diamante lapidado solto é determinado por meio de balanças eletrônicas, geralmente semi-analíticas, devidamente calibradas e estabilizadas, isto é, protegidas de vibrações, de forma que as condições ambientais não influenciem a leitura, o que permite obter resultados precisos e reproduzíveis.

Dentre os 4 Cs, o peso é o único fator que não requer graduação, no entanto ele é de extrema importância, uma vez que o valor unitário dos diamantes de uma determinada qualidade não é uniforme para todos os tamanhos, mas cresce exponencialmente a medida que aumenta seu peso, de modo que a raridade dos exemplares de maior tamanho desempenha um importante papel na formação do preço.

Em termos comerciais, diamantes de igual cor, pureza e lapidação, são avaliados de forma distinta se pertencem a diferentes intervalos de peso. Esta é a razão pela qual os diamantes são frequentemente lapidados com a máxima retenção de peso, o que muitas vezes implica em proporções que se distanciam das ideais e afetam o aspecto final do diamante lapidado. Assim sendo, não é raro nos depararmos com rondízios muito grossos, coroas demasiadamente altas ou pavilhões muito profundos, o que, evidentemente, é levado em consideração pelo gemólogo ao julgar a qualidade da lapidação.

Luiz Antônio Gomes da Silveira, F.G.G. Engenheiro de Minas e Mestre em Geologia Econômica pela UFMG.
Gemólogo pelo Instituto Alemão de Gemologia (DGemG), Associação Britânica de Gemologia (Gem-A) e
Universidade de Barcelona (UB).